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Olá pessoal, vamos dar continuidade a série ‘Entendendo a Teoria da Match-up’ e dessa vez vamos nos atentar às fases de Reconhecimento e Ajuste. Bora conferir o que será analisado nessa segunda parte!

A parte um pode ser encontrada aqui. Eu recomendaria fortemente que você leia a parte um antes de estudar esse segundo artigo.

O texto é grande, pessoal, porém aconselho fazer a leitura dele todo e prestando BASTANTE atenção. Contém MUITA informação útil e ao final dele a ideia de jogo de vocês sofrerá uma alteração muito positiva. Boa leitura 😀

Este artigo vai se concentrar fortemente em um pequeno aspecto de Hearthstone, basicamente falará sobre algo que ocorre nos primeiros 0-3 turnos de um jogo.

Bom, muitos devem lembrar de que na Parte Um foi dito que todos os decks têm ‘planos de jogo’ e também que todo ‘plano de jogo’ consiste em numerosas e variadas ‘fases’. Mago Congelante, por exemplo, possui um fase ‘Segurar & Comprar’, uma fase ‘Por favor não ative meu Bloco de Gelo’, uma fase ‘Alexstrasza’, uma fase ‘matar’ e uma fase ‘última chance’. E cada uma dessas fases pode ser estudada em maiores detalhes. Mas esse artigo não será sobre esse tipo de discussão. Pelo contrário, vocês devem prestar atenção para outra afirmação da Parte Um:

Os ‘planos de jogo’ de TODOS os decks começam com as mesmas duas fases, que são:

  • 1. Fase de ‘Reconhecimento da Match-up’: “Qual deck meu oponente esta usando”
  • 2. Fase de ‘Ajuste à Match-up’: “Agora que eu sei que estou enfrentando o deck X, como eu devo jogar contra o deck X”

Na Parte Um foi argumentado também que para toda ‘fase’ deveria haver uma ‘contra fase’  sendo esta definida como a maneira com a qual o jogador procura se defender contra as ideias/cartas/estratégias do jogador oponente. Por exemplo, para anular a ‘Fase Alexstrasza do Mago Congelante’ você pode jogar Caçador Profissional em conjunto com Repugnaz.s

Agora atente para algo que deveria ter sido óbvio, mas que não foi expressamente declarado na Parte Um: Se TODOS os decks possuem as duas fases acima (Reconhecimento e Ajuste), então presumivelmente também deve ser o caso que TODOS os decks também possuam essas duas contra fases:

  • 1. Fase de ‘Evitar a Detecção da Match-up’: “Eu estou usando o deck X. Por quanto tempo eu posso prevenir meu oponente de saber disso?”
  • 2. Fase de ‘Explorar a Astúcia’: “Eu estou usando o deck X. Porém, julgando pelas jogadas de meu oponente, acredito que ele acha que eu estou com o deck Y. Como eu posso explorar/aproveitar isso?”

Num próximo post vou falar pra vocês sobre o jogar pra ganhar e jogar pra não perder. Ao saber interpretar a match-up, se ela é boa ou ruim pra você, você deve tentar tirar um proveito (se for possível); quando ela não for favorável, nesse caso, você estaria jogando para não perder — esgotando os recursos do seu oponente — e consequentemente acabaria ganhando.

Este artigo é sobre isso. Falará sobre a fase de ‘reconhecimento’ e de ‘ajuste’ e as duas ‘contra fases’ correspondentes em maiores detalhes. Na Parte Um também foi recomendado que se você quer realmente entender uma match-up em particular você deve fazer uma tabela com o ‘plano de jogo’ e ‘contra plano’.

Exemplo de uma tabelinha de Mago Congelante contra Paladino Controle, e os planos de cada um em uma determinada situação:

Alex-Impor

*CP: Caçador Profissional

tabela-planosdejogo

Essa tabela deve mostrar visualmente uma ideia simples: ambos os jogadores estão tentando, simultaneamente, ‘pescar informação’ sobre qual tipo de deck o oponente está usando (que é a fase de ‘reconhecimento’), e ao mesmo tempo tentando se defender contra tais ataques (que é a contra fase de ‘evitar a detecção’). Em essência, o objetivo desse artigo é ajudá-lo a entender como você faria para preencher a tabela acima, mas também porque você deveria se preocupar com isso.

Dicas de Análise I:

O Que São?

‘Dicas de Análise’ é algo muito simples e direto (na maioria das vezes): todo o nosso estudo do oponente é para procurar por qualquer pequena informação que possa revelar qual deck ele está usando. E quanto mais rápido fizermos isso, melhor.

  • Pergunta: “Quão rápido eu posso descobrir qual deck meu oponente esta usando?”

A Resposta (generalizada): Para entender a resposta o que você deve fazer são duas coisas:

  • 1. Criar uma lista de todos os decks da classe do oponente que ele possa estar usando.
  • 2. Pensar sobre todas as diferenças entre esses decks (diferentes estratégias, lacaios, etc) e tentar identificar qual ponto do jogo em que esses decks são propensos a mudarem de rumo entre si. Algumas vezes decks podem mudar de rumo no estágio de mulligan, mas outras vezes essa mudança pode ser muito, muito mais tarde.

Um exemplo disso é que o Zoolock joga lacaios no Turno 2, e o Handlock raramente o faz. Um segundo exemplo seria observar que o ‘Guerreiro Montinho (Combo Freguês Carrancudo)’ muitas vezes vai jogar Machado de Guerra Abrasador no Turno 2, mesmo que não haja lacaios que valha a pena atacar. Um Guerreiro Controle por outro lado, normalmente prefere usar o Poder Heroico, a fim de fortalecer Escudada. Dito isso, Guerreiro Montinho pode até pular totalmente o Turno 2 (eu explico o porquê aqui e aqui), ao passo que a um Guerreiro Controle é altamente improvável deixar passar o ganho de armadura do Poder Heroico.

Há incontáveis ‘dicas’ para descobrir. Contudo, uma vez que essa série tem como objetivo prover ferramentas e não responder a questões relacionadas ao meta, aqui não teremos análise disso mais a fundo. Considerem isso um dever de casa.Vamos seguir em frente…

Dicas de Análise II:

O Que Eles Pensam que Somos?

Dicas de Análise I predominantemente focou em como (e quão rápido) nós podemos decifrar qual deck nosso oponente está usando. Mas nesta seção vamos abordar a mesma questão, mas de uma perspectiva diferente; “Será que as jogadas de nossos oponentes revelam qual o deck que eles acham que temos?” e se sim, “isso é um conhecimento explorável?”.

Na próxima seção será abordada com mais profundidade a maneira de explorar a(s) pressuposição(ões) de nossos oponentes por diversão e benefício próprio. Mas por ora, vamos considerar que tipos de jogadas podem revelar qual match-up nosso oponente pensa que está jogando:

EXEMPLO: [Caçador Profissional no Turno 3] ou [Sem poder heroico no turno 2 – MAGO/DRUIDA]

Foram dados dois exemplos específicos de jogadas que o oponente possa fazer contra você que revelam o que ele acha que você está usando. Obviamente poderíamos enumerar muitos outros exemplos mas novamente, esse artigo é para ser teórico e não específico ao meta.

Coruja Bico-de-ferro

De qualquer modo: “Como nós identificamos uma jogada que pode ser uma ‘dica da match-up’ que o oponente acredita estar?”

1. Crie uma lista de todos os decks da sua classe que você poderia jogar.

2. Pense sobre as cartas no deck de seu oponente.Tirion Fordring

  • 3. Identifique carta(s) (se houver) que possuem diferentes funções em várias match-ups.
  • 4. Espere ele jogar uma das cartas mencionadas em (3): Em qual função ele a implantou? A função revela a expectativa da match-up de seu oponente. Sim, isso acabou soando um pouco vago mas vamos para este simples exemplo: Uma Coruja Bico-de-Ferro sendo jogada no Turno 2 sugere que seu oponente não está esperando tirar muito valor do efeito silenciar, e ao invés disso prefere usa-la como um lacaio 2/1 para trocar. Se você é um Paladino, esta jogada, portanto, sugere que seu oponente espera que você esteja usando algum tipo de deck agressivo de Paladino. E de fato, se você reparar em que consiste o deck de paladino agressivo, realmente não há muito valor para se obter de Silenciar (exceto por anular Benção Dos Reis e talvez o Grito de Guerra do Engrenomalho). Ter seu oponente esperando que você esteja usando um deck de Controle é altamente improvavel já que ele usou a Coruja no Turno 2. E isso é basicamente porque todo deck de Paladino Controle na história de Hearthstone usa Tirion Fordring; e silenciar é a melhor maneira de anulá-lo.

Para reiterar o aviso anterior é bom lembrar de ter cuidado para não interpretar erroneamente as dicas: seu oponente pode de fato estar esperando você estar com um deck Controle, ele só jogou uma Coruja porque ele possuía duas na mão e não pensou que talvez precisasse de ambas. Okay, então essas primeiras duas seções têm sido principalmente sobre como identificar a ‘dica’ que revela informações sobre a match-up. A próxima seção tem o objetivo de tentar demonstrar por que nós devemos dificultar que o oponente ‘nos leia’.

Enrolando e Praticando A Ocultação

‘Enrolar’ e ‘Ocultar’ é, por definição, a tentativa de atrasar a tomada de informação pelo seu adversário e/ou a tentativa de induzir seu oponente ao erro sobre qualquer coisa que você puder:

  • Confunda seu oponente fazendo-o pensar que você está jogando com Controle quando você está de fato jogando de Midrange;
  • Mantenha-o sempre confuso sobre quais cartas seu deck possui;
  • Mantenha-o sempre confuso sobre qual é sua mão e qual é o seu plano de jogo;
  • E assim por diante…

Ao induzí-los ao erro, espera-se que seus oponentes utilizarão cartas chaves na match-up de forma ineficaz e/ou cometa erros estratégicos.

Imagine, por exemplo, que você está usando Face Hunter contra um Druida. O Druida pode, no Turno Três optar por jogar Caçador Profissional. Na maioria das situações isso é uma jogada OK contra Face Hunter, e é OK porque você raramente tira valor do Grito de Guerra nessa match-up. Mas vamos agora supor que você tenha ‘modificado’ sua lista de Face Hunter e tenha incluído algumas cartas para um jogo longo, como Dr. Cabum. Se seu oponente soubesse que você alterou seu deck de Caçador dessa maneira há uma grande chance de que o Druida pudesse ter feito alguma outra jogada no Turno Três. Mas o importante é, ele não sabia! E, portanto, ele usou uma carta chave dele de forma não eficiente e pode sofrer mais tarde por isso. Isso então, é Dr-Cabumum exemplo bastante simples de um Caçador explorando as suposições sobre o meta/match-up do Druida, por diversão e benefício próprio.

Caçador Profissional

 

O DRUIDA: “Ah, esse é um Face Hunter… [Fase de Reconhecimento]… Esse tipo de deck não usa lacaios com ataque maior que 7. Portanto eu posso muito bem jogar Caçador Profissional agora [Fase de Ajuste à Match-up]. O druida acreditou que estava ajustando a match-up ao partir do pressuposto de que se tratava realmente de um face hunter.

(Caçador joga Dr. Cabum)

O CAÇADOR: “Perdeu preibói”

Bom esse foi um exemplo de trapaça no nível meta; acabou que devido a um pouco de ‘meta-gaming’ do Caçador, o Druida falhou em ajustar-se à match-up corretamente. Este é, aliás, um dos argumentos mais poderosos que alguém pode fazer sobre construir seus próprios decks; contra ‘as receitas caseiras’ (ou contra decks já bem estabelecidos que você pessoalmente ‘alterou’) a chance dos oponentes‘pisarem em falso é significantemente maior do que quando comparado a listas de deck copiadas da net’ Então esse foi um exemplo introdutório para ilustrar a ideia de que enganar seu oponente sobre a natureza de seu deck pode produzir resultados tangíveis e positivos. Mas isso foi feito ao alterar um deck. Nos próximos exemplos será mostrado como você pode ganhar uma vantagem contra oponentes com coisas que você pode fazer dentro de um jogo.

Vamos à lista dos 3 Magos:

  • Tempo Mage
  • Freeze Mage (Mago Congelante)
  • Mech Mage

Estes são os 3 tipos de magos que vocês provavelmente verão na Ladder. E o Cientista Louco está presente nos 3 decks. Agora vamos notar um possível comportamento que o mago pode ter.

HP match-up

SUA MÃO: Cientista LoucoGnomo de CordaMecano Traslador

Você possui duas manas: Considere que os dois jogadores passaram o primeiro turno.

O que eu quero que vocês entendam é como o MECH MAGE pode se comportar nesse turno. Ele possui 2 possibilidades:

  1. Jogar Cientista Louco (e plantar a dúvida sobre qual Mago ele é e fazer com que o oponente aguarde para uma resposta)
  2. Ou jogar Mecano Traslador + Gnomo de Corda e revelar de vez que ele é um mech mage.

A questão fundamental, porém, é o quanto a negação do conhecimento nos beneficia — e não se enganem, esta é uma questão extremamente difícil de responder. O problema que temos é que, enquanto o Cientista Louco nega informações (o que é bom ) é também um atraso à agressão do mech mage. Isso, então, levanta a questão: Como é que vamos ganhar X match-up com Mech Mage? — Deve-se dar ao luxo de jogar mais lentamente ou inundar o quanto antes o campo de lacaios?

Devemos arriscar a nossa condição de vitória ao jogar o  Cientista Louco?

Vamos para um outro exemplo…

Por exemplo, um face hunter revela que é face ao jogar Gnomo Leproso no turno 1. Mas este é um deck, onde cada ponto de dano conta, portanto, a decisão de manter o Gnomo Leproso na mão (a fim de negar a informação de match-up ao oponente ), provavelmente, ocasionará mais jogos perdidos do que ganhos.

Mesmo os jogadores profissionais cometem essas falhas (às vezes).

Vejamos esse cenário…

ESL Legendary (Grande Final)

JOGO 1: PinPingHo (Xamã) vs Zalae (Bruxo)

Nesse jogo PinPingHo leu erroneamente a match-up e pagou o pior preço. Ele acreditava estar jogando contra algum tipo de Handlock, por isso estava tão relutante em usar Bagata; ele estava guardando elas para anular os Gigantes da Montanha/Derretidos que na verdade não estavam no deck! Se ele soubesse, provavelmente ele teria usado Bagata em um Arrota-lodo. Em resumo, PinPingHo confundiu tanto a ‘Condição de Vitória’ do Bruxo (o que talvez explique porque ele não usou Bagata em um dos seus próprios lacaios no penúltimo turno do jogo) como seu próprio papel na match-up.

Aqui está o jogo:

Tradução livre e adaptada do artigo feito pelo Smashthings e publicado em inglês no HearthstonePlayers.

Conclusão

Com certeza muitos de vocês acharam essa leitura difícil e densa. No entanto, espero que tenham tido algumas ideias que possam ajudar a melhorar suas match-ups, e que o artigo tenha demonstrado que identificar a match-up o mais rápido possível rende vantagens (especialmente se você reconhecer a match-up antes de seu oponente) e que, uma vez que tal conhecimento é útil, faz sentido tentar privar seu oponente disso!

Beijinhos e até a próxima!